Estudantes sírios: "As pessoas estão a fugir porque têm medo de morrer"
Chegaram ontem a Portugal mais 33 estudantes sírios que irão prosseguir a sua formação em universidades e institutos politécnicos no nosso país, no quadro do programa de apoio da Plataforma Global de Apoio Académico aos Estudantes Sírios, promovida pelo antigo presidente Jorge Sampaio.
Outros sete estudantes tinham chegado em dias recentes e, em conjunto, com os 33 ontem recebidos por Jorge Sampaio num hotel de Lisboa, vão ser espalhados por diferentes estabelecimentos universitários, principalmente no Porto, Minho, Aveiro e Coimbra, mas também na Covilhã e em Lisboa, explicou ao DN Helena Barroco, representante da Plataforma.
Chegados de um país em guerra, muitos mostraram-se reticentes em falar ou, mesmo falando, em deixar-se fotografar, como foi o caso de Rasha e Qaies, ambos residentes em Hama, a quarta cidade mais populosa da Síria. Formada em Arquitetura, Rasha, de 26 anos, destacou ao DN a a importância de "continuar a estudar", no caso uma pós-graduação, para "contribuir para o futuro da Síria". Quando e de que forma é que ainda não sabe. "A guerra vai continuar muito tempo", diz numa frase em que o tom de voz vai baixando à medida que pronuncia as palavras.
Numa cidade que tem um longo passado de resistência ao regime de Damasco (de que exemplo máximo a revolta islâmica sunita que, em fevereiro de 1982, causou mais de 20 mil mortos), Rasha explica que a situação se tornara "insegura" e que "é melhor, agora, estar fora" do país. Quando é interrogada sobre os combates, responde de imediato que prefere "não falar nisso", assim como não quer comentar se há elementos da família a combater pelo regime de Bashar al-Assad ou nas forças da oposição. Uma opção partilhada por todos os restantes estudantes ouvidos pelo DN.
O que "mais nos importa não são os combates, a violência de todos os dias, é o futuro do país, das nossas famílias, o seu bem-estar", diz, de forma significativa. Esta é também a opinião de Qaies, de 20 anos, estudante de Recursos Humanos. Ainda "há combates", acaba por admitir, "mas é na periferia; "não nos queremos preocupar com isso. Não gostamos de falar sobre a guerra", diz num tom de quem não quer prosseguir a conversa. O que se compreende para o cidadão de um país em guerra civil há mais de quatro anos, e que já provocou quase quatro milhões de refugiados. Os sírios são neste momento a nacionalidade com maior número de refugiados no mundo. O conflito, por outro lado, já provocou pelo menos 250 mil mortes, a grande maioria entre a população civil.